O filme foi construído de forma suficientemente inteligente para não ser explícito quanto ao seu enredo. Pequenas lacunas são deixadas ao longo da construção da história, para que o próprio espectador as preencha, porém uma ou outra frase "despreocupadamente" solta é o suficiente para responder a diversas perguntas; sendo assim, embora seja um enredo inteligente e subliminar, é possível apreciá-lo sem muita dificuldade.

O diretor do filme, Sebastián Lelio, possui histórico de construção de obras voltadas ao público LGBTTQI+, e assim é também esse filme. Embora não deixe de ser um romance, Desobediência é claramente um questionamento ao fundamentalismo religioso e ao conceito de liberdade, o que é demonstrado logo nos primeiros 2min de filme, já que ele inicia com o sermão de um rabino, figura representativa da prisão das protagonistas, sobre esse tema.

As atuações das duas protagonistas demonstram uma forte entrega. A cena do sexo, principalmente, exemplifica a qualidade do trabalho de ambas, que conseguiram tornar o momento intenso, mas não mecanizado ou idealizado, motivo pelo qual o diretor também merece felicitações por esse trabalho. Ademais, a inserção dessa cena foi claramente justificada no contexto do enredo, e sua duração está adequada para aquilo que ela precisa passar, sem deixar que o filme se torne uma sexualização banal de relações homossexuais.

Sendo assim, o filme possui um ótimo enredo e grande importância social. Suas atuações, juntamente com seu roteiro, o tornam um romance agradável, envolvente, e politicamente relevante.